sexta-feira, 13 de maio de 2011

Maniqueísmo em Auto da Barca do Inferno e Auto da Compadecida

Auto da Barca do Inferno

O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, nos conta a história do julgamento (Juízo Final) de alguns personagens. Porém, muitos deles não vão para a barca do anjo, por terem cometido pecados e não se arrepender completamente deles. Apenas os Quatro Cavaleiros e o Parvo conseguem entrar na barca do Anjo, a Barca da Glória, pois os Cavaleiros lutaram, mataram e morreram pela igreja e o Parvo vivia na ignorância, cometia pecados mas não sabia que os estava cometendo.

Julgamento em Auto da Compadecida (filme) 
O Auto da compadecida, de Ariano Suassuna, nos mostra a vida das personagens, como João Grilo, que vivia da mentira, enganando os outros; o padre com sua corrupção e a mulher do padeiro com sua traição. Depois de um roubo à cidade, o padre e seu "ajudante", o padeiro e sua mulher, o cangaceiro (que roubou a cidade) e João Grilo morrem e vão ao purgatório, onde são jugads por Jesus e acusados pelo Diabo. A diferença do Auto da Barca do Inferno, é que eles tem uma intercessora, que João Grilo invoca para não irem ao inferno: Maria, mãe de Jesus. Com os apelos dela, Jesus absolve os quatro mas não pode salvar João Grilo. Então, para ele não ir ao inferno, resolve dar uma segunda chance pra ele, levando-o de volta à vida.

Nessas duas obras, percebemos uma grande visão maniqueísta, presente naquela época: Deus manda em tudo e todos e até o Diabo tem que respeitá-lo. Há o julgamento final, na primeira obra havendo a condenação de todos. Porém, na segunda obra, percebemos que há mudança nisso: Há uma intercessão (como uma advogada) e salvação de todos e, o que não poderia ser salvo por pecar demais e não se arrepender, recebeu uma segunda chance. Mas, mesmo assim, ainda nos mostra que devemos tomar cuidado com nossas ações, pois existe a divisão do Bem e do Mal e chegará uma hora em que tudo o que fizermos será contado. Com essa visão, percebemos como o autor de Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente, criticou a sociedade em sua obra. Mostrou que, até o Frade que era um líder religioso e exemplo para seus seguidores, tinha seus pecados escondidos e não era como se mostrava.


UM POUCO DA OBRA AUTO DA BARCA DO INFERNO



Escrita: versos heptassílabos, tom coloquial e com intenção marcadamente doutrinária, misturando em algumas falas o português, o latim e o espanhol. Cada personagem apresenta traços que denunciam sua condição social.


Estrutura: peça teatral em um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o Anjo ou o Diabo travam com os personagens.


Cenário: um ancoradouro, onde estão atracadas duas barcas. Todos os mortos passam por ali, sendo julgados e condenados à barca do Inferno ou à barca da Glória.


Personagens:
Anjo: navegante da barca celeste. Escolhe quem é digno de ir à barca da Glória. 
Diabo: condutor das almas ao Inferno, conhece muito bem cada um dos personagens; é zombador, irônico e bom argumentador. Gil Vicente não coloca o Diabo com responsável pelos fracassos e males humanos mas sim como um juiz, que mostra o lado mais "obscuro" dos personagens, penetrando nas consciências humanas e revelando o que cada um deles procura esconder.
Fidalgo: representante da nobreza. Chega com um pajem, roupas solenes e uma cadeira. É condenado por sua vida pecaminosa, em que a luxúria, a tirania e a falta de modéstia pesam como graves defeitos. A figura do Fidalgo, orgulhoso e arrogante, permite a crítica vicentina à nobreza.
Onzeneiro: alega ter deixado suas posses em terra; querendo buscá-las, revela seu apego às coisas mundanas. O Diabo não deixa que ele volte à terra para pegar suas riquezas, condenando-o à barca do Inferno.
Parvo: simplório, sem malícia, ele escapa do Inferno, driblando o Diabo. É uma alma pura, cujos valores são legítimos e sinceros, o que o conduz ao Paraíso. Em várias passagens da peça, o Parvo ironiza a pretensão de outros personagens, que querem passar por "inocentes" diante do Diabo.
Sapateiro: representante dos mestres de ofício, é um desonesto explorador do povo. Chega com todos os objetos de sua profissão e, habituado a ludibriar os homens, procura enganar o Diabo, que o condena.
Frade: é acompanhado de uma amante. É alegre, risonho, cantador, mas mau-caráter. Acha que é inocente por ser um líder da Igreja, por ter rezado e estar à serviço da fé. Ele dá uma lição de esgrima no Diabo (que finge não saber manejar uma arma), o que prova sua culpa, já que frades não lidam com armas. A crítica vicentina ao clero é incisiva: os homens da fé não são pacíficos, verdadeiros e bons como aparentam.
Brísida Vaz: agenciadora de meretrizes e feiticeira. Ela é conhecida de outros personagens, que utilizaram seus serviços quando eram vivos. Inescrupulosa, traiçoeira, não consegue fugir à condenação.
Judeu: vem acompanhado de um bode. Não obedece à doutrina cristã e é detestado por todos, inclusive pelo próprio Diabo.
Corregedor e Procurador: juiz e advogado, condenados pela imoralidade. Faziam da lei uma fonte de ganhos ilícitos e de manipulação de sentenças, dadas conforme as propinas recebidas. A índole moralizadora do teatro vicentino fica bastante patente com mais essa condenação, envolvendo a justiça humana, como os representantes do Direito.
Enforcado: acredita que a morte na forca o redime de seus pecados, equivalendo a um perdão; para sua infelicidade, isso não ocorre e ele é condenado.
Quatro Cavaleiros: como lutaram contra os mouros para o triunfo da fé, são conduzidos à barca da Glória.


CURIOSIDADE: O judeu é rejeitado e detestado por todos, pois durante o reinado de D. Manuel (época em que viveu o autor) houve uma grande perseguição aos judeus, com o propósito de expulsá-los de Portugal.

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