terça-feira, 7 de junho de 2011

Capitães da Areia: Religião apresentada no livro e a posição social dos personagens.

Uma obra de Jorge Amado, publicada em 1937, narra a historia de um grupo de menores abandonados e marginalizados, que aterrorizam Salvador  denominados “ Capitães da Areia”, que é  liderado pelo jovem Pedro Bala, morador de rua. Entre espisódios e peripécias os Capitaes da Areia roubam para sobreviver. Os lideres podemos citar: Joao grande, Joao Jose ( O Professor),  Sem pernas, Pirulito, Gato, Boa Vida  e Volta Seca. Dora era a entitulada noiva de Pedro Bala.  
A obra trás na trama a forte presença da religião em função dos personagens,  os Capitães da Areia se mostram bastante envolvidos e respeitadores do folclore e religião da Bahia, se relacionam bem com A mãe de santo D. Aninha que tem a amizade dos Capitães da Areia porque, segundo o narrador
“ são amigos da grande mãe de santo todos os negros e todos os pobres da Bahia” (pg. 97).

A igreja não se mostrava preocupada com os Capitães da Areia,
apenas  padre José Pedro se interessava em ajudá-los, era de origem humilde, fora operário durante cinco anos, só conseguiu entrar para o seminário com uma promessa do patrão, feita ao bispo que visitava a fabrica, de custear os estudos de “alguém que quisesse estudar para padre” (pg. 73). No seminário fora discriminado pelos colegas, pela sua baixa origem social, porem, demonstrava uma crença religiosa e sincera. Por isso, assume a missão de levar conforto espiritual às crianças abandonadas da cidade.
Pirulito era o único do grupo que tinha vocação religiosa apesar de pertencer ao Capitães da Areia. Quando parou de roubar, para sobreviver vendia jornais, seu destino foi ajudar o padre José Pedro numa paróquia distante. 
Em uma episodio dos Capitaes da areia “ Reformatorio” Pedro bala e Dora são presos pela  policia em um flagrante de roubo. Na delegacia Pedro bala é brutalmente espancado e chicoteado para revelar onde o bando se escondia. Dora foi levada a um orfanato, mas Pedro bala é levado a um Reformatorio, lá foi mal tradado cpenas a feijão e água. Com a ajuda de Sem- Pernas, Pedro bala foge do reformatório.
Capitaes da Areia trás uma critica social bastante difundida nos dias de hoje, a questão dos meninos de rua.
Jorge amado em dois depoimentos aqui expostos retrata a sua visão a cerca do assunto:


Capitaes da Areia pode ser considerado a epopéia dos misseraveis, em que denuncia as mazelas sociais como, a exploração do trabalho reificador, o preconceito de classes a descriminação cultural e a fome, contem um sentido moral que castiga as elites da sociedade e é portadora de uma mensagem política.    
Podemos acrescentar a essa relação, um episódio a cerca da obra:
Jorge Amado iniciou a redação de seu texto romance, Capitães da Areia, na cidade de Estancia, interior do Estado de Sergipe, em março de 1937, para termina-la em pleno Oceano Pacifico, a caminho do méxico, no mes de junho do mesmo ano. Os exemplares da primeira edição da obra, disponiveis no mercado e no estoque da editora José Olympo, que a lançara, foram apreendidos pouco após a instalação do Estado Novo (1937-1945). Em novembro, oitocentos exemplares do livro foram incinerados publicamente em salvador, por ordem do comandante da 6° Região militar.
A ditadura Vargas, enquando durou, pode ter impedido a circulação desse romance, mas a partir de sua segunda edição (1944), ele vem mostrando a vitalidade que já ultrapassou a marca de 120 ediçoes em lingua portuguesa.     

segunda-feira, 6 de junho de 2011

O Papel da Mulher em O Cortiço e sua Relação com os Dias Atuais

Aluísio Azevedo mostra a realidade urbana do Rio de Janeiro nos fins do século XIX. Destaca o problema da habitação, precisamente em Botafogo, onde se passa toda a narrativa de O Cortiço. É nessa época que começa surgir cortiços.
O autor procura destacar o comportamento e o modo de vida de algumas personagens e também as condições socioeconômicas do universo feminino do século XIX. Ele caracteriza o ambiente, preocupando-se com a época e os conflitos que interessam à sociedade, principalmente pelas camadas mais baixas.
Neste ambiente criado, a atenção maior é para as mulheres. Elas serão estudadas no contexto social, mostrando a contribuição feminina no processo histórico. A obra O Mulato, também escrita por Aluísio Azevedo é colocada em questão para se contrapor a alguns personagens que se parecem em determinados comportamentos sociais. A exposição da realidade pretende interpretar e entender os motivos e o caráter das personagens: Bertoleza, Dona Estela, Leónie, Leocádia, Rita Baiana, Piedade de Jesus, Leandra, Ana das Dores, Neném e Augusta Carne-Mole.

As solteiras
A mulata Rita Baiana, envolvente e sensual, morava com Firmo sem serem casados. Gostava de ter sua própria autonomia. Rita Baiana diz em uma parte da obra: “Casar? Protestou a Rita. Nessa não cai a filha de meu pai! Casar! Livra! Para quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que é a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre!”. A grande maioria das mulheres populares tinha a própria maneira de pensar e viver. Hoje em dia é assim. Não há mais a necessidade de casar, pois a mulher tem sua independência. Naquela época, um dos motivos para não casar era o custo alto com as despesas do casamento. Essa atitude representa preconceitos da época, pois a mulher era símbolo de lar, enquanto as solteironas eram mulheres perdidas, indignas e perigosas por servirem de mau exemplo para as “moças de família”.
Leónie era na verdade uma meretriz, prostituta. Ela, que era madrinha de Pombinha, acaba levando-a ao mundo da prostituição e tendo relação homossexual com ela, após seu pai morrer. Na verdade, o que se propunha no mercado de emprego para mulheres de origem humilde e de baixa escolaridade não era bom. Sendo jovem e bonita, a prostituição era o que aparecia para muitas destas jovens. Muitas dessas meretrizes eram casadas ou viviam como casadas (moravam com um homem mas sem ser legalizado como casamento). Essa atitude não era bem vista pela burguesia e muito menos pelo marido. Era considerado um modo de vida desvinculado das normas oficiais. Nos dias de hoje, as mulheres que são meretrizes geralmente não tem outra opção de conseguir dinheiro para seu sustento, sendo solteiras e optando por essa profissão em última escolha. Também existem algumas que são enganadas por outras pessoas, achando que vão conseguir uma vida melhor e acabam na prostituição. O preconceito com meretrizes é muito grande.
Pombinha era bonita, querida por todos no cortiço. É filha de Dona Isabel e tem um noivo, João da Costa. A história da jovem gira em torno do fato de ela ainda não ser moça, já que ainda não havia tido sua primeira menstruação. Antes mesmo de menstruarem, as moças já eram prometidas em casamento, como é o caso de Pombinha. Atualmente, a maioria das moças casam após completarem 18 anos. Há casos que o casamento é antes, mas nunca é antes o suficiente para não terem menstruado ainda. Porém, sua madrinha Leónie a leva para o mundo da prostituição e tem relações homossexuais com ela, tirando, assim, a visão anteriormente criada: de uma garota pura.

As adúlteras
Dona Estela traiu seu esposo, Miranda. Ele preferiu manter-se perante a sociedade, evitando maiores conflitos. Assim, Miranda prefere perdoar a esposa e fingir que nada havia ocorrido, para não ser “mau visto”. Nessa época, era melhor ser bem visto pela sociedade do que ter uma vida boa em família, sendo preferível perdoar uma infidelidade do que deixar virar fofoca na boca do povo.
Leocádia é mulher do ferreiro Bruno. Portuguesa, pequena, traiu Bruno com Henrique. Leocádia sai de casa, enquanto seu esposo fica totalmente sem rumo. Assim como Miranda, ele perdoa a traição da esposa e vai até ela pedindo o seu retorno. Era uma humilhação, perder a mulher para outro homem. De acordo com o código Penal do Brasil, em 1890, só a mulher era penalizada, sendo punida. O homem era apenas considerado como adúltero. Hoje não é mais assim. Qualquer pessoa que for traído tem direito de pedir separação de seu cônjuge, não havendo punição para nenhuma das partes.

As lavadeiras
Na obra, as mulheres que trabalhavam nas tarefas tradicionalmente femininas eram as lavadeiras. Podemos destacar: Leandra “a machona”, portuguesa feroz. Tinha duas filhas, uma que era casada e a outra separada do marido. Ana das Dores, “a das Dores”, morava em uma casinha à parte, mas toda a família habitava no cortiço. Neném era espigada, franzina e forte. Já Augusta Carne-Mole era brasileira, branca e casada com Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado da polícia. O trabalho destas mulheres pobres era um trabalho honesto, fica evidente que muitas delas eram responsáveis pelo sustento principal da casa. E mais, muitas ficam divididas entre o trabalho fora de casa e ser dona de casa. Continua sendo assim em muitas casas, onde as mulheres não possuem maridos ou que o salário deles não é suficiente para suprir as necessidades havendo, assim, um trabalho dentro e fora de casa para a mulher.

A mulher subordinada
A personagem Bertoleza se destaca não somente por ser a principal, mas pelo contexto da obra. Morava junto com João Romão, sem ser casada, que tinha o intuito apenas de se enriquecer com o trabalho de Bertoleza. Ela ainda vivia em estado de escravidão, pois era totalmente submissa. Eles garantiam a sobrevivência com o trabalho de Bertoleza e João deixava-se sustentar por ela. Além de tudo isso, João Romão tinha vergonha de Bertoleza, por ser negra. Seu intuito era enriquecer e depois entregá-la ao seu dono, já que era escrava. João queria uma mulher branca e da sociedade. Seus sentimentos com relação a ela eram de pura repugnância. A cena final da obra retrata isso. Nela, Bertoleza, em pleno trabalho descamando peixes é surpreendida por policiais. Denunciada por aquele a quem tanto sempre dedicou trabalho e sua vida, ela crava a própria faca em seu peito. Como não há mais escravidão, essa cena não é repetida exatamente como no livro, mas existem muitos chefes que usam suas empregadas para enriquecer e depois as descartam.

Conclusão: A vida da mulher daquela época é parecida com a de hoje em dia, pois há muitas situações em que acontece a mesma coisa, como no caso de mulheres que não querem casar. Algumas coisas evoluíram, como no caso de adúlteros, onde a mulher era punida e o homem não. O caso de prostituição é mais complexo, pois há um retardo da sociedade por não aceitar mulheres meretrizes. Mas é comprovado por estudos que a prostituição não faz bem à mulher, havendo problemas psicológicos além dos físicos. Portanto, de um lado pode ser preconceito e do outro uma forma de forçar a mulher a não fazer isso, pois não será bom pra ela.

A ordem e a desordem social e o papel do pícaro em Memórias de um Sargento de Milícias.

Memórias De Um Sargento De Milícias

A crítica de Memórias de um Sargento de Milícias é sobre a ordem e a desordem na sociedade. Quando se fala nessa crítica, se constrói  na mente personagens corretos e personagens malandros, porém, é a estabilidade social que representa a ordem.
“No tempo do rei”, como se diz no livro, existia apenas dois polos extremos rígidos: os escravos e os donos dos escravos. Os homens livres faziam parte de um grupo sem muitas importâncias sociais, como os barbeiros, os padeiros, mas ainda assim eram da ordem, por possuirem profissão, alguma classe social, mesmo não tendo a estabilidade financeira. Ao contrário daqueles que eram da vida. Um dos personagens que mais representa a ordem é o Major Vidigal, 'o rei absoluto, o árbitro supremo' e o distribuidor dos castigos em uma sociedade em que a polícia ainda não estava organizada. Já por outro lado, havia a Vidinha, uma mulata sensual que enlouquece os homens com sua vida sem compromissos. E assim acontece com vários outros personagens que são divididos entre a ordem e a desordem, o bem social e o mal.
Entre todos esses papeis da sociedade já definidos e a própria sociedade sendo estavel, sendo os personagens dividos, está o papel do picaro, Leonardinho, que anda livremente pela ordem e pela desordem, que não chega a optar por um ou por outro. Vê-se, antes, obrigado pelas circunstâncias, a aceitar ora esta, ora aquela ocupação, um tempo vivendo no emprego, outro na vagabundagem junto com outros personagens que estão na desordem, vivendo pelo acaso, sem temer as consequencias.
Portanto é irônico, no fim, Leonardo se tornar Sargento de Milícias, o mais alto posto no exercito, sendo que é considerado um anti-herói, uma figura da malandragem. E nele esta um personagem que não controla o meio em que se envolve, pelo contrário, vai deixando-se levar por ele.

sábado, 4 de junho de 2011

“A Cidade e as Serras” e a crônica “A bola” de Luís Fernando Veríssimo.

O ponto principal da obra “A cidade e as serras” de Eça de Queirós é a crítica ao ambiente social e urbano de Portugal.
Com um nome bem sugestivo, a obra de Queirós vem nos mostrar a contradição existente entre a cidade e o campo, criticando os avanços rápidos da tecnologia, o acúmulo de dinheiro e a ociosidade gerada pela vida urbana, nos passando a mensagem que por mais atrativa que a cidade seja, felicidade verdadeira, tranqüilidade e paz só se encontram no campo. E é exatamente com esse pensamento que o autor faz com que sua personagem principal, Jacinto Galião, cansado do tédio e das futilidades que vivia em Paris, viajar rumo a Tormes, uma propriedade rural. Assim, (devido às confusões enfrentadas durante a viagem) Jacinto passa a descobrir os prazeres da vida simples.
Também foi baseado nesse tema que Luís Fernando Veríssimo escreveu a crônica “A bola”. Nela, é retratada a decepção de um pai, que ao presentear o filho com uma bola, percebe que o garoto não gosta do que ganhou, esperando algo mais moderno, como um brinquedo eletrônico. O pai ainda tenta convencer o filho de que o brinquedo é interessante, fazendo algumas embaixadinhas e mostrando suas habilidades ao garoto, que mal presta atenção, continuando vidrado em um jogo de videogame. Durante o conto, o pai conclui que o “(...) os tempos são outros. Que os tempos são decididamente outros”.  
Embora a temática seja a mesma, o livro de Eça de Queirós e a crônica de Veríssimo apresentam diferentes visões: Enquanto o primeiro mostra que o campo faz o homem feliz, o segundo mostra que a felicidade pode estar na tecnologia e na comodidade proporcionada por ela e uma vida simples pode ser desinteressante.
Os avanços tecnológicos da atualidade nos proporcionam confortos cada vez maiores, nos tornando dependente deles. Ainda que seja difícil para os mais velhos, que estavam acostumados à vida mais simples, se adequarem a modernidade, para quem vive esses avanços é ainda mais difícil abandoná-los, e levar uma vida sem eles. Comprovar isso é fácil. Você que está lendo esse texto, imagine como seria sua vida se você fosse a uma viagem de férias e esquecesse seu aparelho celular. Como se isso já não bastasse, não há energia elétrica no lugar onde você está, portanto, nada de computador, televisão ou qualquer outro aparelho que você costume usar no seu dia a dia. Seria terrível, não? É justamente esse o maior problema da tecnologia: ela nos faz esquecer o quanto a vida poderia ser mais simples e mais fácil sem ela.  

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Condições socioeconomicas do Nordeste de Graciliano Ramos e do Nordeste atual


Em 1938, o nordeste brasileiro é retratado por Graciliano Ramos como sendo um espaço sem saída, sem socorro, não posso dizer sem solução, porque Graciliano não sugere nenhuma em seu livro, mas não significa que não exista. O nordeste é apresentado como um lugar ínfimo, cruel, vazio, e triste, que é uma visão na verdade expressada pela alma do sertanejo que sofre com a seca.E por essas condições precarias socioeconomicas, o sertanejo é uma pessoa de pouco vocabulario e expressão, que parece rude e seco como a terra, mas que tem bom coração e ama sua família, fazendo de tudo para a sobrevivência dela.
Atualmente sabemos que o nordeste ainda não é um lugar maravilhoso para se viver e ainda existe o êxodo rural, que faz nordestinos de todas as áreas migrarem para estados mais urbanizados e com melhores condições de vida. Mas o sertão ainda é a divisão mais afetada com a seca, porque no sertão a principal atividade econômica é a agropecuária, na maioria das propriedades é realizada a criação de gado e de caprinos, o primeiro não é tão difundido por ser um animal de grande porte que requer uma quantidade maior de recursos como água, pastagens, pois por ser uma área de clima semi-árido e que sofre grandes períodos de seca fica difícil o desenvolvimento da criação, já o segundo obtém mais êxito por ser animais menores e de melhor adaptação às situações adversas impostas pelas condições climáticas, o sertão possui um plantel de 9 milhões de cabeças de caprinos. Na agricultura desenvolve-se em forma de subsistências, ou seja, produção de alimentos para o consumo familiar. Já nas outras divisões, a história do nordeste vem sido bastante mudada.
A zona da mata é a região mais desenvolvida e industrializada do nordeste, essa está localizada nas áreas litorâneas da região, na qual se encontram os principais centros urbanos.Na zona da mata a atividade industrial é diversificada, há extração de minérios que de forma estratégica geralmente provoca a instalação de empresas nas proximidades das jazidas, outro fator extremamente importante está no sistema de transporte, que na essência da industrialização se insere no transporte de mercadorias e matéria prima.Como a sub-região é mais desenvolvida faz-se necessário a instalação de infra-estrutura com a finalidade de dar ritmo e dinamismo à circulação de mercadorias, capitais, matéria prima e pessoas. A sub-região também se insere na produção agropecuária que na maioria das vezes está envolvida na monocultura de exportação.O meio norte é uma sub-região de transição entre o nordeste e o norte, onde se encontram uma parte do Piauí e Maranhão, as características econômicas estão ligadas às atividades rural, extrativista e pastoril. No entanto o sul do Maranhão já está inserido no mapa da soja, no qual muitos gaúchos (que para lá migraram) desenvolvem a cultura, a produção dessas áreas é mecanizada em grandes latifúndios. Um ponto importante no Maranhão, no contexto da soja, é geográfica para o escoamento até os portos em São Luiz, capital do Maranhão. Mas no agreste as atividades econômicas estão vinculadas à produção primária, mais precisamente na agricultura e pecuária. O agreste tem característica propícia à policultura, como mandioca, batata, banana etc., e criação de animais, como bovinos e caprinos. A realização do trabalho é tradicional e rudimentar, praticamente não se usa tecnologia e a produtividade é baixa, como a produção da zona da mata é destinada à exportação quem fornece alimentos a ela é o agreste.Concluindo, estamos vendo uma grande melhora nas condições nordestinas, embora isso não se aplique à todos os lugares infelizmente.Mas a visão de nordeste vem sido mudada ano após ano e a de Graciliano Ramos, apesar de não ser contraditória a atual, ela é bem mais aplicada ao sertanejo do que ao nordeste. Hoje vemos que existem soluções sim, mas a longo prazo e como sempre dependemos do governo para incentivar a melhora socioeconomica dessa area que ja foi tão afetada e não deve ser mais. 

domingo, 15 de maio de 2011

A intertextualidade entre Dom Casmurro e Otelo


Machado de Assis sempre foi mestre em criar situações delicadas e polêmicas para suas personagens em suas obras. Dom Casmurro não é diferente, e por muitos, pode ser considerada sua obra literária, que mais fez profissionais da área, e até mesmo leigos perderem o sono refletindo, tentando encontrar a resposta para a famosa pergunta: Capitu traiu, ou não Bentinho?
O tema já é conhecido e já foi utilizado por outros muitos autores, e é claro, Shakespeare com Otelo, sua famosa tragédia, não pode ser esquecido.
Mas até onde vai a semelhança entre a obra de Shakespeare e Dom Casmurro?
É notório que o tema principal abordado por esses dois grandes mestres da literatura é o ciúme, e até onde a mente humana pode chegar. Em Otelo, as conseqüências são mais drásticas do que em Dom Casmurro. Na primeira obra, Otelo, movido pelo ciúme, mata Desdêmona e em seguida tira a própria vida, após saber que sua amada era inocente. Já em Dom Casmurro, Capitu é punida com a separação de Bentinho, indo morar  na Europa.
É possível perceber que a intenção de Machado de Assis foi realmente a de não deixar claro na obra a infidelidade de Capitu, deixando que o próprio leitor tirasse suas próprias conclusões. É claro, que pelo livro ser narrado em primeira pessoa, a todo o momento Bentinho tenta convencer o leitor de que sua esposa realmente o traiu, e que Ezequiel não era seu filho, mas sim de Escobar, seu melhor amigo. Por outro lado, a própria maneira como Bentinho apresenta cada situação, demonstrando em pontos específicos o quanto seu ciúme era obsessivo, nos mostra que toda a desconfiança, talvez não tivesse fundamentos, e que tudo não passara de situações que ele mesmo criou em sua mente.
Em Otelo, Iago era responsável por enganar o Mouro, levando-o a acreditar que Desdêmona o traíra, mas em Dom Casmurro não foi preciso que outra personagem incentivasse essa desconfiança, pois o próprio Santiago, mergulhado em suas reflexões passa a desconfiar de Capitu.
 O próprio nome escolhido por Machado de Assis para a personagem principal de Dom Casmurro faz menção á tragédia de Shakespeare. Santiago, olhando para esse nome é possível perceber, sem muita dificuldade: Santo Iago. Assim, Bentinho pode ser considerado seu próprio sabotador, assumindo a função de Iago em si mesmo.


Evidências encontradas no livro:

Capitu traiu ou não?

Aspectos que levam a crer que sim:

  • No capítulo CVI – “Dez libras esterlinas”, Capitu mostra dez libras esterlinas, fruto de suas economias, a Bentinho e diz que Escobar foi seu corretor e que este não lhe dissera nada pois ela queria lhe fazer uma surpresa, o que demonstra que havia entre Capitu e Escobar uma certo grau de intimidade e confiança um no outro.
  • No capítulo CXIII - “Embargos de terceiro”, Bentinho vai ao teatro e deixa Capitu em casa, por ela dizer que estava doente. Quando ele volta, encontra Escobar voltando de sua casa, ele diz que tinha ido lá para procurá-lo. Quando Bentinho chega em casa, Capitu está bem melhor ou até mesmo  boa. Será que ela realmente estava doente ou tudo não passou de dissimulação para enganar o marido?
  • No Capítulo CXXIII – “Olhos de Ressaca”, durante o enterro de Escobar, Bentinho nota em Capitu um sofrimento tão grande que tornava-se praticamente igual ao de Sancha, viúva de seu amigo.
  • A semelhança entre Escobar e Ezequiel era tão grande, que para Bentinho não havia prova maior que esta.

Aspectos que levam a crer que não:

·        No capítulo LXXXIII – “O Retrato”, Bentinho conversa com Gurgel sobre semelhanças entre pessoas e este lhe diz: “Na vida há dessas semelhanças assim esquisitas”, ou seja, a semelhança existente entre Escobar e Ezequiel poderia se enquadrar nesse caso.
·        Em diversos capítulos Bentinho demonstra cenas de ciúme excessivo de Capitu.
·        Como o livro é narrado pelo próprio Bentinho, muitas cenas podem ser exageradas, por se tratarem do próprio pensamento e das reflexões da personagem.


sexta-feira, 13 de maio de 2011

Comparando o índio de Alencar com o índio atual

“Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu […] o pé grácil e nu, mal roçando alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas”

É com essa descrição que José de Alencar começa a contar a história da heroína romântica da lenda do Ceará, relatada com tanta exaltação, tornando-a mais bela do que a natureza, que a caracteriza. Iracema então se apaixona por quem representa o colonizador, Martim e desse amor, nasce Moacyr, mestiço entre as duas raças, duas culturas e que no livro de Stuart Hall, representa o futuro, junto com seu pai. Já sua mãe, representa o passado, afirmando isso com a frase final “Tudo passa sobre a terra”, mostrando que tudo é transitório: hábitos, línguas e raças.
Mas para comparação entre o índio representado na obra de Alencar e o índio dos dias atuais, utilizaremos o começo do livro e seu final.
Como já dito, Iracema é a exaltada pela natureza, tornando-se mais bela que a mesma, mostrando ao decorrer da história seus costumes, seus hábitos, a bravura do índio, suas guerras e mais. O índio na obra esta constantemente ligado com a natureza, suas crenças e seus deuses são elementos da natureza. Chega então o colonizador, Martim, que conquista a amizade de um índio da tribo dos pitiguaras, Poti, o mesmo acompanhando o amigo em batalhas e guerra contra as tribos inimigas.
No fim do livro, após a morte de Iracema e a volta de Martim, que tinha partido para sua terra, Poti considerando-o como um irmão, aceita a nova religião, a cristã, pois queria que “tivessem ambos um só deus, como tinham um só coração”. Com isso, a religião cristã ganha força na terra selvagem, começando a colonização e os índios esquecendo-se de suas crenças.
Com o colonizador conquistando espaço no território brasileiro, os índios começaram a conseguir meios de sobreviver na floresta de pedra que vai surgindo ao longo dos séculos. Começam então a deixar seus costumes, suas crenças e suas identidades como índios, que um dia viviam da pesca, da colheita, dos rituais, das pinturas, para viver em casas, usar computadores, falar uma nova língua, o português, usar roupas de marcas e deixar a pintura, fazendo com que a cada nova geração acabe esquecendo de sua descendência. Poucas são as tribos que ainda são ligadas a seus costumes e crenças.
A natureza não exalta mais o índio atual. Triste e próximo pode ser o fim dos antigos donos de nosso pais, mas “tudo passa sobre a terra”, até mesmo nossa Iracema.

Maniqueísmo em Auto da Barca do Inferno e Auto da Compadecida

Auto da Barca do Inferno

O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, nos conta a história do julgamento (Juízo Final) de alguns personagens. Porém, muitos deles não vão para a barca do anjo, por terem cometido pecados e não se arrepender completamente deles. Apenas os Quatro Cavaleiros e o Parvo conseguem entrar na barca do Anjo, a Barca da Glória, pois os Cavaleiros lutaram, mataram e morreram pela igreja e o Parvo vivia na ignorância, cometia pecados mas não sabia que os estava cometendo.

Julgamento em Auto da Compadecida (filme) 
O Auto da compadecida, de Ariano Suassuna, nos mostra a vida das personagens, como João Grilo, que vivia da mentira, enganando os outros; o padre com sua corrupção e a mulher do padeiro com sua traição. Depois de um roubo à cidade, o padre e seu "ajudante", o padeiro e sua mulher, o cangaceiro (que roubou a cidade) e João Grilo morrem e vão ao purgatório, onde são jugads por Jesus e acusados pelo Diabo. A diferença do Auto da Barca do Inferno, é que eles tem uma intercessora, que João Grilo invoca para não irem ao inferno: Maria, mãe de Jesus. Com os apelos dela, Jesus absolve os quatro mas não pode salvar João Grilo. Então, para ele não ir ao inferno, resolve dar uma segunda chance pra ele, levando-o de volta à vida.

Nessas duas obras, percebemos uma grande visão maniqueísta, presente naquela época: Deus manda em tudo e todos e até o Diabo tem que respeitá-lo. Há o julgamento final, na primeira obra havendo a condenação de todos. Porém, na segunda obra, percebemos que há mudança nisso: Há uma intercessão (como uma advogada) e salvação de todos e, o que não poderia ser salvo por pecar demais e não se arrepender, recebeu uma segunda chance. Mas, mesmo assim, ainda nos mostra que devemos tomar cuidado com nossas ações, pois existe a divisão do Bem e do Mal e chegará uma hora em que tudo o que fizermos será contado. Com essa visão, percebemos como o autor de Auto da Barca do Inferno, Gil Vicente, criticou a sociedade em sua obra. Mostrou que, até o Frade que era um líder religioso e exemplo para seus seguidores, tinha seus pecados escondidos e não era como se mostrava.


UM POUCO DA OBRA AUTO DA BARCA DO INFERNO



Escrita: versos heptassílabos, tom coloquial e com intenção marcadamente doutrinária, misturando em algumas falas o português, o latim e o espanhol. Cada personagem apresenta traços que denunciam sua condição social.


Estrutura: peça teatral em um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o Anjo ou o Diabo travam com os personagens.


Cenário: um ancoradouro, onde estão atracadas duas barcas. Todos os mortos passam por ali, sendo julgados e condenados à barca do Inferno ou à barca da Glória.


Personagens:
Anjo: navegante da barca celeste. Escolhe quem é digno de ir à barca da Glória. 
Diabo: condutor das almas ao Inferno, conhece muito bem cada um dos personagens; é zombador, irônico e bom argumentador. Gil Vicente não coloca o Diabo com responsável pelos fracassos e males humanos mas sim como um juiz, que mostra o lado mais "obscuro" dos personagens, penetrando nas consciências humanas e revelando o que cada um deles procura esconder.
Fidalgo: representante da nobreza. Chega com um pajem, roupas solenes e uma cadeira. É condenado por sua vida pecaminosa, em que a luxúria, a tirania e a falta de modéstia pesam como graves defeitos. A figura do Fidalgo, orgulhoso e arrogante, permite a crítica vicentina à nobreza.
Onzeneiro: alega ter deixado suas posses em terra; querendo buscá-las, revela seu apego às coisas mundanas. O Diabo não deixa que ele volte à terra para pegar suas riquezas, condenando-o à barca do Inferno.
Parvo: simplório, sem malícia, ele escapa do Inferno, driblando o Diabo. É uma alma pura, cujos valores são legítimos e sinceros, o que o conduz ao Paraíso. Em várias passagens da peça, o Parvo ironiza a pretensão de outros personagens, que querem passar por "inocentes" diante do Diabo.
Sapateiro: representante dos mestres de ofício, é um desonesto explorador do povo. Chega com todos os objetos de sua profissão e, habituado a ludibriar os homens, procura enganar o Diabo, que o condena.
Frade: é acompanhado de uma amante. É alegre, risonho, cantador, mas mau-caráter. Acha que é inocente por ser um líder da Igreja, por ter rezado e estar à serviço da fé. Ele dá uma lição de esgrima no Diabo (que finge não saber manejar uma arma), o que prova sua culpa, já que frades não lidam com armas. A crítica vicentina ao clero é incisiva: os homens da fé não são pacíficos, verdadeiros e bons como aparentam.
Brísida Vaz: agenciadora de meretrizes e feiticeira. Ela é conhecida de outros personagens, que utilizaram seus serviços quando eram vivos. Inescrupulosa, traiçoeira, não consegue fugir à condenação.
Judeu: vem acompanhado de um bode. Não obedece à doutrina cristã e é detestado por todos, inclusive pelo próprio Diabo.
Corregedor e Procurador: juiz e advogado, condenados pela imoralidade. Faziam da lei uma fonte de ganhos ilícitos e de manipulação de sentenças, dadas conforme as propinas recebidas. A índole moralizadora do teatro vicentino fica bastante patente com mais essa condenação, envolvendo a justiça humana, como os representantes do Direito.
Enforcado: acredita que a morte na forca o redime de seus pecados, equivalendo a um perdão; para sua infelicidade, isso não ocorre e ele é condenado.
Quatro Cavaleiros: como lutaram contra os mouros para o triunfo da fé, são conduzidos à barca da Glória.


CURIOSIDADE: O judeu é rejeitado e detestado por todos, pois durante o reinado de D. Manuel (época em que viveu o autor) houve uma grande perseguição aos judeus, com o propósito de expulsá-los de Portugal.