segunda-feira, 6 de junho de 2011

O Papel da Mulher em O Cortiço e sua Relação com os Dias Atuais

Aluísio Azevedo mostra a realidade urbana do Rio de Janeiro nos fins do século XIX. Destaca o problema da habitação, precisamente em Botafogo, onde se passa toda a narrativa de O Cortiço. É nessa época que começa surgir cortiços.
O autor procura destacar o comportamento e o modo de vida de algumas personagens e também as condições socioeconômicas do universo feminino do século XIX. Ele caracteriza o ambiente, preocupando-se com a época e os conflitos que interessam à sociedade, principalmente pelas camadas mais baixas.
Neste ambiente criado, a atenção maior é para as mulheres. Elas serão estudadas no contexto social, mostrando a contribuição feminina no processo histórico. A obra O Mulato, também escrita por Aluísio Azevedo é colocada em questão para se contrapor a alguns personagens que se parecem em determinados comportamentos sociais. A exposição da realidade pretende interpretar e entender os motivos e o caráter das personagens: Bertoleza, Dona Estela, Leónie, Leocádia, Rita Baiana, Piedade de Jesus, Leandra, Ana das Dores, Neném e Augusta Carne-Mole.

As solteiras
A mulata Rita Baiana, envolvente e sensual, morava com Firmo sem serem casados. Gostava de ter sua própria autonomia. Rita Baiana diz em uma parte da obra: “Casar? Protestou a Rita. Nessa não cai a filha de meu pai! Casar! Livra! Para quê? Para arranjar cativeiro? Um marido é pior que o diabo; pensa logo que é a gente é escrava! Nada! Qual! Deus te livre!”. A grande maioria das mulheres populares tinha a própria maneira de pensar e viver. Hoje em dia é assim. Não há mais a necessidade de casar, pois a mulher tem sua independência. Naquela época, um dos motivos para não casar era o custo alto com as despesas do casamento. Essa atitude representa preconceitos da época, pois a mulher era símbolo de lar, enquanto as solteironas eram mulheres perdidas, indignas e perigosas por servirem de mau exemplo para as “moças de família”.
Leónie era na verdade uma meretriz, prostituta. Ela, que era madrinha de Pombinha, acaba levando-a ao mundo da prostituição e tendo relação homossexual com ela, após seu pai morrer. Na verdade, o que se propunha no mercado de emprego para mulheres de origem humilde e de baixa escolaridade não era bom. Sendo jovem e bonita, a prostituição era o que aparecia para muitas destas jovens. Muitas dessas meretrizes eram casadas ou viviam como casadas (moravam com um homem mas sem ser legalizado como casamento). Essa atitude não era bem vista pela burguesia e muito menos pelo marido. Era considerado um modo de vida desvinculado das normas oficiais. Nos dias de hoje, as mulheres que são meretrizes geralmente não tem outra opção de conseguir dinheiro para seu sustento, sendo solteiras e optando por essa profissão em última escolha. Também existem algumas que são enganadas por outras pessoas, achando que vão conseguir uma vida melhor e acabam na prostituição. O preconceito com meretrizes é muito grande.
Pombinha era bonita, querida por todos no cortiço. É filha de Dona Isabel e tem um noivo, João da Costa. A história da jovem gira em torno do fato de ela ainda não ser moça, já que ainda não havia tido sua primeira menstruação. Antes mesmo de menstruarem, as moças já eram prometidas em casamento, como é o caso de Pombinha. Atualmente, a maioria das moças casam após completarem 18 anos. Há casos que o casamento é antes, mas nunca é antes o suficiente para não terem menstruado ainda. Porém, sua madrinha Leónie a leva para o mundo da prostituição e tem relações homossexuais com ela, tirando, assim, a visão anteriormente criada: de uma garota pura.

As adúlteras
Dona Estela traiu seu esposo, Miranda. Ele preferiu manter-se perante a sociedade, evitando maiores conflitos. Assim, Miranda prefere perdoar a esposa e fingir que nada havia ocorrido, para não ser “mau visto”. Nessa época, era melhor ser bem visto pela sociedade do que ter uma vida boa em família, sendo preferível perdoar uma infidelidade do que deixar virar fofoca na boca do povo.
Leocádia é mulher do ferreiro Bruno. Portuguesa, pequena, traiu Bruno com Henrique. Leocádia sai de casa, enquanto seu esposo fica totalmente sem rumo. Assim como Miranda, ele perdoa a traição da esposa e vai até ela pedindo o seu retorno. Era uma humilhação, perder a mulher para outro homem. De acordo com o código Penal do Brasil, em 1890, só a mulher era penalizada, sendo punida. O homem era apenas considerado como adúltero. Hoje não é mais assim. Qualquer pessoa que for traído tem direito de pedir separação de seu cônjuge, não havendo punição para nenhuma das partes.

As lavadeiras
Na obra, as mulheres que trabalhavam nas tarefas tradicionalmente femininas eram as lavadeiras. Podemos destacar: Leandra “a machona”, portuguesa feroz. Tinha duas filhas, uma que era casada e a outra separada do marido. Ana das Dores, “a das Dores”, morava em uma casinha à parte, mas toda a família habitava no cortiço. Neném era espigada, franzina e forte. Já Augusta Carne-Mole era brasileira, branca e casada com Alexandre, um mulato de quarenta anos, soldado da polícia. O trabalho destas mulheres pobres era um trabalho honesto, fica evidente que muitas delas eram responsáveis pelo sustento principal da casa. E mais, muitas ficam divididas entre o trabalho fora de casa e ser dona de casa. Continua sendo assim em muitas casas, onde as mulheres não possuem maridos ou que o salário deles não é suficiente para suprir as necessidades havendo, assim, um trabalho dentro e fora de casa para a mulher.

A mulher subordinada
A personagem Bertoleza se destaca não somente por ser a principal, mas pelo contexto da obra. Morava junto com João Romão, sem ser casada, que tinha o intuito apenas de se enriquecer com o trabalho de Bertoleza. Ela ainda vivia em estado de escravidão, pois era totalmente submissa. Eles garantiam a sobrevivência com o trabalho de Bertoleza e João deixava-se sustentar por ela. Além de tudo isso, João Romão tinha vergonha de Bertoleza, por ser negra. Seu intuito era enriquecer e depois entregá-la ao seu dono, já que era escrava. João queria uma mulher branca e da sociedade. Seus sentimentos com relação a ela eram de pura repugnância. A cena final da obra retrata isso. Nela, Bertoleza, em pleno trabalho descamando peixes é surpreendida por policiais. Denunciada por aquele a quem tanto sempre dedicou trabalho e sua vida, ela crava a própria faca em seu peito. Como não há mais escravidão, essa cena não é repetida exatamente como no livro, mas existem muitos chefes que usam suas empregadas para enriquecer e depois as descartam.

Conclusão: A vida da mulher daquela época é parecida com a de hoje em dia, pois há muitas situações em que acontece a mesma coisa, como no caso de mulheres que não querem casar. Algumas coisas evoluíram, como no caso de adúlteros, onde a mulher era punida e o homem não. O caso de prostituição é mais complexo, pois há um retardo da sociedade por não aceitar mulheres meretrizes. Mas é comprovado por estudos que a prostituição não faz bem à mulher, havendo problemas psicológicos além dos físicos. Portanto, de um lado pode ser preconceito e do outro uma forma de forçar a mulher a não fazer isso, pois não será bom pra ela.

6 comentários:

  1. Muito bom, realmente vai me ajudar no meu trabalho de amanhã, muito obrigado!

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  2. Qual era o papel das lavanderias no cortiço

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  3. Gostei muito da interpretação feita sobre o papel da mulher na obra O Cortiço. Nessa obra realista o cortiço é o Brasil, apesar de ser publicada em 1890, é atual. Conseguimos observar que as coisas não estão tão diferentes, que ainda há um certo patriarcalismo. Essa é uma discussão necessária e urgente.

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